sábado, 26 de maio de 2012

Criando histórias

Existe Vida Após o Casamento?
ou
Deu a Louca na Rapunzel

Como todos já sabem, no final da história da Rapunzel, ela se casou com Encantado, o príncipe. Mas ao contrário do que dizem os boatos, eles não foram felizes para sempre. Certa quarta-feira, Encantado estava no sofá do castelo, de olhos grudados no Mengão que jogava, enquanto Rapunzel se mordia de raiva por estar perdendo o último capítulo de O Beijo do Vampiro Edward. Como sempre acontece, a sogra de Encantado tinha um amor super materno para com Rapunzel e odiava vê-la triste, infeliz, decepcionada ou com qualquer outro sentimento desse tipo. E então ela meio que pôs Rapunzel contra Encantado e isso gerou uma discussão enorme, o que gerou um olho roxo, o que gerou o temível divórcio. E então surge em meu pensamento a seguinte dúvida cruel: as sogras sempre fazem da vida de seu genro uma tortura? Existe vida após o casamento?
Encantado, como sempre o homem, foi chutado para fora do castelo, o que me faz pensar: não era ele o dono do mesmo? Como poderia ir embora e seu reino ficar com Rapunzel? Isso me leva a uma conclusão: ou isso foi obra da sinistra sogra, que entrou com uma liminar na justiça entregando o olho roxo para a Lei Maria da Penha ou essa história está mal contada. Mas vamos continuar com ela assim mesmo…
Depois de um tempo, Rapunzel, já livre do controle mental de sua mãe superprotetora, se arrependeu de ter se separado de seu esposo. Mas logo após a declaração de arrependimento ficou ciente da nova notícia que se espalhava pelo reino: Encantado havia se tornado um hippie, se envolvido numa gangue que protegia as auras intelectuais contra os maus espíritos da ignorância e morto à queima roupa por um homicida psicopata ladrão de bancos disfarçado de velhinha por quem se prontificou a ajudar a atravessar a rua em meio à fuga da polícia. Logo após saber do acontecido, Rapunzel ficou desolada e entrou em uma profunda e desesperada depressão.
Afundada em desespero e lágrimas de arrependimento, Rapunzel cometeu uma loucura. Pegou uma faca e… cortou todas as suas tranças. Diante da tragédia, sua família ficou com muito medo dela cometer algo mais perigoso e internou-a em uma clínica de psicoterapia.
Rapunzel, desvalida de toda a sua consciência e noção geral, resumindo, louca, achava que a clínica era a torre que fora presa há alguns anos atrás e que a enfermeira chamada Isabella Nardoni era a bruxa. Em seu terceiro dia de internação, ela teve sua oportunidade de ouro. Enquanto a enfermeira Isabella preparava os medicamentos de costas para Rapunzel, ela, sem pensar nas consequências, empurrou a enfermeira, que caiu do sexto andar. Isabella Nardoni foi enterrada poucos dias depois da perícia e Rapunzel foi transferida para outra clínica, uma que tinha quartos com segurança máxima. O que a salvou da cadeia, era ela não estar em condições psíquicas normais.
A família, como todo conto dramático e meloso diz, ficou chocada e quis averiguar com a filha porque ela havia feito aquilo. Mas nas regras da nova clínica, os pacientes de segurança máxima não deveriam receber visitas.
Dias se passaram, e com o tempo, Rapunzel foi se acostumando com a ideia de ser viúva e a sua consciência foi voltando aos poucos. Certo dia, ainda com sua camisa de força, ela avistou através do vidro de dez centímetros de espessura da janela de seu quarto um anãozinho verde que caminhava tranqüilo pela rua, não se incomodando com os curiosos que o observavam. Logo percebeu que era seu amigo de infância, Rumpelstiltiskin. Ela gritou e esperneou, chamando-o, mas nada. Ela queria tanto vê-lo, pois foi ele quem, ao contrário do que dizem os boatos, apresentou Encantado a ela.
Depois de alguns dias, a camisa de força de Rapunzel foi retirada e ela passou a receber visitas. Não estava mais sob segurança máxima. Seus pais, muito emocionados, conversaram com ela, pedindo desculpas por terem deixado-a na clínica, aquela coisa melosa de reencontros e etc. e tal. Rapunzel então fez o pedido que a corroía por dentro fazia alguns dias. Pediu a sua mãe que convidasse Rumpelstiltiskin para fazer uma visita à clínica.
A mãe de Rapunzel atendeu ao pedido dela e certo sábado, Rumpelstiltiskin apareceu. Ele era baixo, gordo, careca, tinha verrugas e mais verrugas, resumindo, todo o padrão de feiúra adotado pela sociedade brasileira existia nele, resumindo mais ainda, ele era horrivelmente feio, coitado. E para fechar com chave de ouro, era verde e usava roupas totalmente fora de moda. E então, mais um reencontro meloso.
Rapunzel contou a ele sobre a morte de Encantado e pediu a ele para ajudá-la a encontrar um novo amor, a fim de esquecer completamente a experiência amorosa fracassada. Mas Rumpelstiltiskin disse que havia visto Encantado não fazia muito tempo, pelas bandas do Deserto do Saara, o que me faz pensar: o que Rumpelstiltiskin fazia no Deserto do Saara? Conclusão: ou Rumpelstiltiskin tem poderes mágicos ou essa história está mal contada. Mas vamos continuar com ela assim mesmo…
Rapunzel disse que só podia ser um engano, pois Encantado havia morrido! Mas Rumpelstiltiskin tinha certeza absoluta e disse que voltaria ao deserto e traria Encantado de volta para ela. O que me faz pensar: porque Rumpelstiltiskin não fez isso antes? Conclusão: ele estava com pressa, ou essa história está mal contada. Mas vamos continuar com ela assim mesmo…
Passaram-se dois dias e então Rumpelstiltiskin voltou, como prometido, trazendo Encantado. Uma das minhas dúvidas está desvendada. Rumpelstiltiskin tinha poderes mágicos. Porque não era possível realizar uma viajem de ida e volta ao Deserto do Saara em dois dias sem utilizar magia. E também, porque os dois haviam chegado ao quarto da clínica em meio a um turbilhão de cores, sombras e névoa. Com certeza isso não é normal. Assim sendo, rolou mais um daqueles reencontros melosos.
Então Encantado explicou tudo. Disse que a mãe de Rapunzel fora raptada pela bruxa malvada que, ao contrário do que os boatos diziam, não havia morrido ao cair da torre. A bruxa queria vingança e então seqüestrou a mãe de Rapunzel e se disfarçou de sogra chata para poder separar Rapunzel e Encantado. Depois transportou o príncipe para o Deserto do Saara. E espalhou a fofoca de que Encantado havia morrido. Mais uma de minhas dúvidas está desvendada. Encantado foi chutado para fora do castelo e ficou sem seu reino não porque quis, mas porque isso foi obra da bruxa má.
Então Encantado continuou contando sua versão dos fatos. Disse que o pai de Rapunzel, que ao contrário do que os boatos dizem, não morreu, não suspeitava de nada, e acrescentou que ele era um babaca. E ainda que quando Rapunzel havia recebido sua primeira visita na clínica, quem veio visitá-la foi na verdade a bruxa ainda disfarçada. Mas então Rapunzel perguntou por que ela aceitou chamar Rumpelstiltiskin para ajudá-la. Quem respondeu dessa vez foi o próprio anãozinho verde. Ele disse que ele estava colaborando com a bruxa, então ela não teria o que temer ao deixá-lo conversar com Rapunzel. Mas que após ele vê-la naquele estado, ele resolveu ajudá-la. A minha terceira dúvida está desvendada. Rumpelstiltiskin não havia salvado Encantado antes, pois estava colaborando com os planos malignos da bruxa. Mas aceitou salvá-lo depois de ver o estado deprimente de Rapunzel.
Agora, os três estavam trancados em um quarto de uma clínica psicoterapêutica, com a mãe de Rapunzel correndo perigo lá fora. Os três decidiram salvá-la e então Rumpelstiltiskin transportou-os direto para a torre em que Rapunzel ficara trancafiada durante um longo tempo, anos atrás. A verdadeira mãe de Rapunzel estava acorrentada e amordaçada num canto do quarto. Mas ela estava com uma expressão de pânico no rosto e apontava para as sombras. Da escuridão, surgiu um clone perfeito da mãe de Rapunzel. Mas sua expressão era parecida com a de Bin Laden um pouco antes do 11 de setembro. A mãe malvada começou a se dissolver como se estivesse sendo triturada, até que virou um montinho de pó no chão, mas o mesmo começou a se reerguer sozinho e transformou-se numa bruxa horrível com uma enorme verruga no nariz pontudo e comprido.
Então Rumpelstiltiskin voou na bruxa e os dois sumiram. Durante um minuto de aflição total, Encantado pegou algumas chaves que estavam sobre a cama no outro lado do quarto e desacorrentou a mãe de Rapunzel. E então Rumpelstiltiskin voltou sozinho com a varinha da bruxa quebrada nas mãos. Ele disse que haviam sido transportados por ele para a Antártida e que lá, ele quebrou a varinha da bruxa e voltou sozinho, deixando-a lá para sempre, vivendo com as focas e os leões-marinhos. Assim sendo, Rumpelstiltiskin transportou todos de volta para a clínica, para não levantar nenhuma suspeita. Depois vieram os agradecimentos melosos.
No dia seguinte, Rapunzel foi liberada da clínica, casou-se novamente com seu amor e voltou a viver no castelo com seu príncipe. É claro que agora, o castelo tinha dois sofás e duas TV’s. Desmentindo o que eu havia dito no começo da história, Rapunzel e Encantado foram, sim, felizes para sempre, mas demorou um pouco para isso acontecer, não foi logo após o matrimônio.
A minha última dúvida está desvendada. As sogras nem sempre são a tortura da vida de um casal feliz. E, tendo como exemplo essa história de uma luta por um amor, posso dizer que existe, sim, vida após o casamento.
Giusepe Tonete Guimarães

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